sábado, janeiro 14, 2006

Recortes poéticos do não vivido...

Ao passante, cuja efemeridade se traduz no irreal
Car j’ignore où tu fuis, tu ne sais où je vais,
O toi que j’eusse aimée, ô toi qui le savais!
(Baudelaire)

Duas da tarde:
Exceto o sol
Sobre a tez
ouro
é cedo enquanto
o desejo evapora
hora, sem querer dizer
a deus
a(o)
meu mundo
fora de órbita

Ouvindo Jamie Cullum...
devia pedir que apagasse o cigarro
calasse minutos, outorgando pensamentos
porque eu nem saberia
dizer o quanto ainda a
existência resiste ao passar andarilho do relógio
(o óbvio era meu olhar confirmando o que tu dizias)


(pensando no sério almodóvar)

Há sempre o instante
Instável
Instantâneo
- prolongado,
Conta gota, cata-vento
retendo
o que não volta e lento
Se esvai...

(para quem acha que a morte é uma nascimento...)

O volume era tão alto que nem sabia quem eu olhava

A imagem da televisão gritando ainda era mais nítida que o transeunte,

Que nada dizia

Ia, apenas
Cambaleando pela rua da praia grande
(ele parecia ainda mais sério com os cabelos presos, pretos)
Mesmo assim ainda
tinha o semblante
ante a náusea de ver-me
desprezível moribundo

segunda-feira, janeiro 09, 2006

for:migas

as formigas. todas elas caminham irremediavelmente, sem que meus dedos, apoiados sobre o chão frio da cerâmica, consigam acompanhar os insetos que pertencem à ordem dos Hymenoptera, eu já sabia porque já fui arrebatada, certo período, por formigas, vespas, abelhas, libélulas... mesmo que eu quisesse acompanhar as minúsculas pernas das formigas com o meu dedo indicador a minha intenção fracassaria. ainda acho, ao ver esses artrópodes, que eles são o melhor exemplo para se pensar sobre a vida que urge, surgindo possibilidades. tenho respeito pelas formigas, principalmente as operárias, porque conseguem viver 6 anos, caso não ocorra nenhuma intempérie, como o meu dedo indicador esmagar em um belo dia de sol ou ainda meu all star cego tatear - sem intenção - esse inseto, nada medíocre, e esmagá-lo impiedosamente. chovendo, penso nas formigas que serão atingidas por uma enorme gota de chuva, afogadas pela ínfima enxurrada, pelo olhar das formigas, morte inexplicável, fenômeno natural. há ainda casos onde formigas morrem por um dos pecados capitais: a gula. já vi esses desprezíveis, mas não menos interessantes, digamos bichinhos, cometerem suicídio ao carregarem toneladas de doces nas costas... não sei, vou repensar a cadeia alimentar e traçar esses novos caminhos que um pequeno ser pode trilhar. agora, há dezenas rodando perto de mim e meu dedo indicador digita em velocidade inversamente proporcional às pernas agitadas e velozes das amigas formigas.

terça-feira, janeiro 03, 2006

passado presente...


curvada sobre a onda
estrela e clara ronda manhã
amanhã, sol do meio dia
forte maresia, tua parte
tempestade

brilhando, passos de mim
borboleta do mar,
sei que ainda estás aqui
voando pela lágrima oceano
mais anos, luz

vaga lume
melhor é ver asas deslizando na maré
baixando o céu
no horizonte, sereia colorida
outras idas, outros mares
de quem não enxerga ares
que a água
é a terra do alto,

eu canto
por mais que exista
cores réplicas no ar
borboleta-bailarina, bate asas no mar
que o mar é tua casa
dia de nadar, voar rasante pela onda
vazante


recebi cobranças de amigos da época da escola. eu teria que colocar no blog o que eu fazia por aqueles tempos (o que nem faz tanto tempo assim...). lembrei de mais uma história do herzog (feita lá pelos idos 2000). nounouse é um personagem (diria que é sonique) e foi tirado de um poema de vinícius de moraes. lembrei desse desenho porque recebi esse poema, ontem, presente da carol! os versos ao lado se configuram uma canção, sem título, também de 2000 (ou seria 2001?). há tempos não escrevo canções...

escuto edu lobo e tom, que roda pela 2º vez. lembro de tudo. sinto saudade furacão, calo. há 2 dias não faço outra coisa que não seja pensar. postar no blog, agora, é apenas uma exceção na rotina. aqui e em mim chove.