quinta-feira, fevereiro 07, 2008

quarta-feira, agosto 15, 2007







o pó estilhaçado
foi o alvo, o buraco que fazia em
palavras na trilha das estrelas
[lavro alvos]


e poemas.




15.08.07
au passant: deixo meu sorriso de café preto
nessa manhã gelada
só restos
meus cacarecos, nem serão ouvidos...

domingo, agosto 05, 2007


No chão de asfalto / Ecos, um sapato /Pisa o silêncio caminhante noturno /Fúria de ter nas suas mãos dedos finos de alguém /A apertar, a beijar /Vai caminhante Antes do dia nascer /Vai caminhante /Antes da noite morrer /Vai Luzes câmera /Canção que horas são /Sombra na esquina /Alguém, Maria /Sente a pulsar um amor musculoso /Vai encontrar esta noite o amor /Sem pagar, sem falar, a sonhar /Vai caminhante... /No chão, vê folhas /Secas de jornal /Sombra na esquina /Alguém, Maria /Pisa o silêncio caminhante noturno/ Foge do amor/ Que a noite lhe deu sem cobrar /Sem falar, sem sonhar/ Vai caminhante...

(o dia que o tatu saiu para caminhar... esses mutantes já sabiam de tudo!)











segunda-feira, julho 30, 2007




da saudade,
essa persona que fica não fala
nada espero, apenas meu castigo, esse silêncio de olhos
escuros que só fitam
no meu leito de morte.




ai! como eu silenciosamente amei o bergman e desejei violentamente ser a liv ullman!

terça-feira, junho 26, 2007

Sin lugar a dudas...

Cabrone!

são esses dias frios os verdadeiros culpados por envergar na goela dolorida carmim o conhaque assombrosamente dreher derretido nos dedos. Assim que estiver com sol nas pálpebras, começarei a aprender técnicas de jardinagem para ajudar meus pés de acerola que crescem no campo. No quedo, chingon cabrone, outras sementes que não sejam as do fruto pequenino e vermelho e no quedo outra colher de açúcar nesse suco do fruto que cresce no campo.

Escolhi bem a terra e o vento nordeste - que traz esse calor chapante no frio do sul. Esse terreno, contudo, me fez pôr as mãos no grão latino, que agora descobri. Mis respetos, mis respetos, Cabrone, sou latino-americano, isso sim eu não sabia. Esse meu riso portenho, esse chapéu mexicano, meu cigarro no canto esquerdo da boca bolivariana, meu andar peruano... Acompanha, Cabrone, esse meu olhar de árvore outonal.

segunda-feira, junho 18, 2007

Os limpadores de estrelas*

Junho: As estrelas estariam mais sujas neste mês? São tantos pós cósmicos a serem limpos? Essas milhões de estrelas não estariam sozinhas e não sujas?

Por duas vezes perdi no mês de junho. Perdi para o ofício das estrelas, que é nobre, imortal e saudoso. Não me cobrem as festas juninas, não me cobrem os balões de São João. Por este mês já não desejo nada, exceto as lembranças que restaram para as estrelas.

Esses ventos de junho. Que levem a dor que eu sinto para cima. E assim ajudem na ocupação de soprar o pó das luzes. Nada mais.


As dores que sentimos só podem ser levadas ao alto. O porto me roubou minutos em companhia de D. Maria Helena, que foi limpar estrelas, ou melhor, pintar estrelas. Em breve teremos mais estrelas, mais brilhantes e coloridas, como ela gostava.

E que meu pai, bom contador que era, ajude a contar essas novas estrelas coloridas que despontam. No alto.


* Cortázar já sabia desse ofício.

segunda-feira, maio 21, 2007

Meu desenraizamento crônico

Não tenho lido letrinhas que me emocionam.
Não.
Li essa semana, descordando da sentença primeira, algo que me emocionou. Chorei, silenciosamente, cabeça curvada e mãos juntas, Cortazar recomendou que assim fosse.

Era um livro grande, páginas grandes e ilustrações grandes. A folha lâmina espessa, chorei ao atingir o corte número 23, prelúdio 1 - O nascimento de duas bonecas.
Era só a primeira lágrima.

Essas letras que me deixaram confusas, no meio da aula, foram escritas e olhadas por Luiz Eduardo R. Achutti. É a tese, em português, que fora apresentada em algum lugar da França, que não faz diferença, pois não me emocionaria mais se soubesse. São fotos e textos, nessa ordem.

Chorei quando vi a catadora de lixo encontrando uma boneca, testando para ver se funcionava, um ser grande e os olhos brilhando por ter encontrado uma boneca.

Já na página 37, prelude 2 - Dona Emilie morreu - chorei até meu cérebro processar as últimas sílabas lidas...

"Ir viver em uma outra cidade significa sentir novos odores, adaptar-se a uma alimentação diferente, aprender a apreciar sabores desconhecidos, sentir mais ou menos frio, habitar-se a novos ruídos, redefinir a distância física em relação às outras pessoas, caminhar em outro ritmo e, sobretudo, mudar sua maneira de olhar o mundo, a duração desse olhar, sua direção, profundidade e passar a ser olhado diferentemente" (p. 38)

É um relato, simples e denso, de alguém que deixou seu país e foi estudar em outras paragens...
O estranhamento, essencial na profissão que escolhemos...

Mas eu chorei, chorei, ao lembrar do que deixei e do que já vivi nos pampas gaúchos. São outras ruas e geografias a serem decifradas, outros comportamentos, outra estética, outra arquitetura. Como adaptar-se a isso? Não sei, mas eu estranho...

Eu, estranha, nessa terra que não é minha, com um sotaque que não é familiar para quem mora aqui, com hábitos alimentares diferentes e muita, muita saudade estranha - pois não sabia que existia em mim.

E minhas lágrimas caíam quando li que o autor, um estranho desse lugar, fora a casa de uma operária francesa, que morrera a tantos anos que não importam aqui... A casa de d. Emilie estava praticamente intacta desde sua morte... Tudo estava lá... Apenas a poeira intrusa havia se apossado do que um dia fora habitado. São esses minúsculos grãos, que me fazem espirrar, os verdadeiros donos de tudo que deixamos. A poeira e todos os vermes malditos que se encarregam de destruir.

"O que significa a vida, se após nossa morte, ninguém vem ao menos guardar nossas cartas?" (p. 40)

A D. Emilie, apesar de morta, estava descrita nas cartas e postais que restaram... Novamente as letrinhas que fazem emocionar também reconstróem outras histórias, por vezes não-faladas, outras susurradas, algumas cantadas.

Não conheci D. Emilie, só vi o que restou...
Penso o que restaria de mim? Uns livros, algumas dedicatórias, algumas cartas e emails... Uns sapatos 34 e nada mais. A poeira e os vermes que finalmente venceram no tempo.

Meu desenraizamento crônico me faz pensar.