domingo, outubro 30, 2005

entre imagens e sentidos



Amor ao meio-dia
O sol
no pau
a pique.
A sombra
da vulva telha vã
(Marina Colasanti)

Três estrelas sob o sol da tua boca
noite sob o infernal desejo
da tua boa
boca lasciva
ia-se ao desejo da noite
que se esmera na insanidade
dia-noite
sem a hora dos amantes

(Van Gogh, Starry Night)


sábado, outubro 29, 2005

com o gosto de sal

Havia alguns dias que queria escrever uma carta. Entre as cansativas burocracias de dias normais em branco, a tarefa prazerosa diluia e reduzia-se ao pó da vontade. As horas caminhavam diariamente e a minha idéia de escrever a carta tornou-se ainda mais incômoda. Queria dedicar o tempo necessário para escrever e não conseguia... ficava angustiada.

Havia 1 ano que estivera na linda Olinda e havia 1 ano que decidira mudar a rota. 1 ano que descobri que havia a antropologia do onírico, que conheci Maffesoli e 1 ano que não sabia se caberia no restante.

Exatamente 1 ano depois, eu escutava a mesma música à beira-mar*, lembrando dos sambas da terça negra, das idas e vindas e da pergunta que não sabia responder, porque nunca havia me perguntado.

Eu a via... Foi o que ele me disse! As lágrimas-oceano, azul cortante que o sal estanca...


* Linda Juventude, 14 Bis

terça-feira, outubro 18, 2005

Domingo

o sangue coagulado
não havia absinto e nem charutos

spleen e lápis e água

ouvi chico e djavan até descobrir que leminski me esperava.

Ai, amor, miragem minha, minha linha do horizonte, é monte atrás de monte, émonte, a fonte nunca mais que secaAi, saudade, inda sou moço, aquele poço não tem fundo, é um mundo e dentroum mundo e dentro um mundo e dentro é um mundo que me leva

Contramão

A hora é do vento
(cassiano ricardo)
são caminhos que não
cruzam
são dois caminhos que são
paralelos
não amarelos, porém azuis
são as estradas que não admitem passeios
são/eram
erram os caminhos
eram dois caminhos que não aceitam passistas
amei o caminho simplesmente
por saber
o sabor
de não poder retonar
Escutava Lô Borges... Lembrei dos caminhos por onde passei e os que ainda não pisei. Deu saudade do vento e da estrada percorrida uma única vez!

sábado, setembro 24, 2005

Bamba

Música Incidental: Rosa Amarela
Poema meu, incidentalmente do Chacal

e nesses dias de carnaval
faço um cordão
enfeito a avenida

tu que vi
dros

lançados ao chão
faço caco-confete e
faço dança
e dos meus pés sangrando

sambo o carmesin
pinto o asfalto

sou ausência
nem faço falta
fim do jogo

quinta-feira, setembro 15, 2005

Part ida

Depois do ré bemol
A varinha de condão findou
Na corda ----- b a m b a
E eu senti[nela]


Uma noite inteira aos pedaços

sábado, setembro 10, 2005

Três noites de lua cheia de mim

Passou no espaço azul uma fugaz dança
(Eugenio Montale)


Já caminhava há umas três horas, dúvida no passo e cada passo resolvendo o consenso que nem queria chegar. Saudade das três horas andando, já havia parado só para chegar perto do consenso que não queria, enquanto caminhava não havia certeza, porque se caminhava é porque tinha dúvidas para onde ir. Descobri que não tomei a ambrosia, mas isso não impediu que a minha forma humana se consumasse. Pensei por três horas que o movimento das sereias era mais belo há três anos e ainda tive vontade de chorar porque nem sequer lembrava o que meu pai falava sobre as sereias, que eu achava que era o mesmo que cereais na manhã ensolarada. Já sei, hoje, três horas passadas, que a vida perto do equador é mais saudade. Não lembrei que a fragilidade pode ser disfarçada, recordei isso apenas três horas depois e já estava em casa, comendo os últimos três pedaços de chocolate e pensando no movimento das sereias/cereais na manhã com o sol do equador.

não bebi a ambrosia
S(em) saudade
Não sou eterna
Já sinto falta de mim

Depois, vi que escrevia apenas para matar saudade e terminar os últimos goles de vinho que descansavam na garrafa. Nem queria que o relógio anunciasse as três horas não dormidas da manhã ainda sem sol no equador. Descobri que viver no trópico aumenta a saudade que até três meses não conhecia. É entretenimento tentar desvendar em que Estado me encontro.

passo que traz saudade
não passa
na estrada dianteira
meu passatempo
Passa a tempo, bem ligeiro

Descobri nesses três últimos minutos que a razão está no silêncio e que infância não se acaba nas cantigas de roda; - e nem mesmo as nuvens são siglas que desejam ser decifradas. (Tu)do que é obscuro tende a ser clareado.




(quem vai ter coragem de ler tudo isso??? assino: janaina, meio blues)