Dia chuvoso de março. Eu ia escorregando na almofada, enterrando minha cabeça entre a espuma e escondendo a face desfeita em lágrimas. Eu sempre quis que ele estivesse aqui. Eu sempre desejei falar com ele mais uma vez, como a daughter do filme do Michael Dudok. Apenas uma vez. Porque aqui chove e eu ainda espero como se ele estivesse voltando na próxima estação. Choro porque nem consegui me despedir dele... E todos os dias, como se ele estivesse sorrindo ao meu lado, repito que serei feliz. Só desanimo, incrivelmente, quando estou bêbada.
Para ele eu era o Linus, andava segurando uma fralda e pedindo colo. Eu sempre chorava e queria colo. Não queria que ele saísse de perto, porque eu já previa que a saudade me invadiria, após meus 7 giros em torno do sol.
a chuva escorre
boca adentro
e vou-me andando pela chuva
cata-vento
a chuva escorre pelos
olhos
e vou-me, atento
choro-chuva, meu alento
a chuva escorre
e vou-me
chorando chuva
a tempo
(poema dos 7 anos, quando descobri que perdas são irremediáveis)